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Por que o anjo falou a Alma com uma voz de trovão?

“E falou como se fosse com voz de trovão, fazendo com que tremesse o solo onde estavam.”

Mosias 27:11

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Alma, o filho, e os filhos de Mosias são apresentados no Livro de Mórmon como pessoas que foram “um grande obstáculo à prosperidade da Igreja de Deus” durante o reinado de Mosias. Como Saulo antes de sua conversão (Atos 9), eles perseguiram membros da igreja e ativamente procuraram destruí-la.

Eles foram considerados responsáveis por estarem “atraindo o coração do povo, causando muita dissensão entre o povo, dando oportunidade ao inimigo de Deus de exercer seu poder sobre eles.” (Mosias 27:9).

Isto de repente mudou quando Alma e os filhos de Mosias, no curso de sua “rebelião contra Deus”, encontraram um anjo do Senhor. A escritura diz que o anjo “apareceu-lhes; e desceu como se fosse numa nuvem; e falou como se fosse com voz de trovão, fazendo com que tremesse o solo onde estavam” (Mosias 27:11).

Isso resultou em um “espanto” tão grande de sua parte, que Alma e os filhos de Mosias “caíram por terra e não entenderam as palavras que ele lhes disse.” (Mosias 27:12). Esta incrível manifestação do Divino terminou com Alma em estado de choque, “porque [havia] visto com seus próprios olhos um anjo do Senhor; e a sua voz era como trovão, que fazia tremer a terra” (Mosias 27:18-19).

Faz sentido que o anjo se manifestou a Alma em “uma nuvem” e com “uma voz de trovão” que tremeu a terra, especialmente a partir das antigas perspectivas do Oriente Médio e da Mesoamérica.

Como explicado por Mark Wright, antigas religiões do Oriente Médio incluíam divindades à tempestade, como Baal e Birqu, que foram retratados “como guerreiros poderosos que brandiram armas poderosas em suas mãos, como raios ou clavas flamejantes.” Assim como o poderoso Zeus dos gregos, estas divindades comandavam a chuva, o raio e outros fenômenos naturais em terríveis demonstrações de poder divino.

“As tempestades eram manifestações de divindade para culturas que adoravam deuses da tempestade, e relâmpagos serviam como uma manifestação ameaçadora do poder que esses deuses possuíam.”

Na Bíblia hebraica, o Deus de Israel, Jeová, absorveu alguns dos atributos do Deus da tempestade Baal. O Salmo 68 descreve Jeová como “aquele que vai montado sobre os céus” (Salmo 68:4), um nome compartilhado por Baal, na mitologia da antiga da cidade Cananita de Ugarit.

No Salmo 65, Jeová é retratado como um Deus de fertilidade, rebanhos e rejuvenescimento, mais uma vez consistente com representações Cananitas de Baal (Salmo 65:9-13). David G. Burke explicou que os autores da Bíblia hebraica queriam retratar Yahweh, não Baal, como alguém que governa os cosmos, e como “aquele que montava as nuvens, controlava as tempestades, e trouxe chuvas frescas” para a terra.

Enquanto eles viajavam pelo deserto do Sinai, Jeová revelou-se (um conceito que o estudioso chama de teofania) em uma nuvem ou pilar de fogo em várias ocasiões para os filhos de Israel. Durante uma das teofanias no Sinai em que “houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina muito forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no acampamento” (Êxodo 19:16).

Isto funcionou como uma demonstração do poder de Jeová, tanto sobre os inimigos de Israel (Êxodo 14:24) e as próprias forças da natureza. Tinha a intenção de retratá-lo como um guerreiro divino digno de uma devoção e lealdade de Israel.

Como Wright explicou, “Raios tinham conotações muito diferentes no novo mundo, especificamente na Mesoamérica” do que no antigo Oriente Médio. Embora ainda associado com a manifestação do poder divino, “na Mesoamérica, o raio foi associado com a fertilidade e regeneração, até mesmo ressurreição”, e não com forças violentas e destrutivas nas mãos de uma divindade guerreira.

Wright continuou: “um princípio central da antiga teologia maia era que o deus do milho morreu, foi enterrado, e ressuscitou quando um raio abriu a superfície da terra, que foi conceituada como uma montanha, uma rocha, ou até mesmo uma carapaça de tartaruga gigante.” Esta associação entre o relâmpago e a divindade do milho teria sido significativa para Alma, que mais tarde explicaria que, enquanto em seu estupor, ele encontrou a salvação na ressurreição de Jesus Cristo (Mosias 27:23-31; Alma 36:12-23).

De uma antiga perspectiva do Oriente Médio ou da Bíblia, a voz do anjo como trovão poderia ser entendida como uma manifestação do poder terrível do Deus da tempestade ou do guerreiro divino. De uma perspectiva mesoamericana, a voz do anjo como trovão pode ser entendida como algo que associa o anjo com o deus do milho, a quem os nefitas veneravam na forma de Jesus Cristo.

O porquê

É verdade que a manifestação de tempestades e raios “variou muito entre os povos do Antigo Testamento e o Livro de Mórmon.” Em vez de “ver isto como uma contradição ou inconsistência no simbolismo divino, é antes uma reafirmação de que as manifestações de divindade são fenômenos culturalmente incorporados.”

Isto não deve ser uma surpresa, pois o Senhor Se revela a Seus filhos “conforme a sua maneira de falar, para que alcançassem entendimento” (Doutrina e Convênios 1:24; 2 Néfi 31:3). É importante lembrar que “a linguagem não se limita às palavras que usamos”, mas que “também envolve sinais, símbolos e gestos que estão imbuídos de significado pelas culturas que as produziram.”

Além disso, “como acontece com a língua falada, as línguas simbólicas e gestuais são culturalmente específicas e podem ser plenamente compreendidas apenas por aqueles arraigados nessa cultura em particular.”

Compreender isto ilumina a razão pela qual o anjo falou numa voz que parecia um trovão. Essencialmente, o anjo queria abalar e paralisar Alma; para lhe mostrar que sua vida estava sendo construída sobre um alicerce instável.

Ele falou como um trovão para que Alma soubesse que este mensageiro celestial falou com poder e autoridade. Esta manifestação forçou Alma a reconhecer que se ele continuasse nesse caminho, ele seria expulso e destruído no julgamento divino (Mosias 27:16; Alma 36:9, 11).

O trovão e o relâmpago que o acompanhava também simbolizavam regeneração e ressurreição, que Alma teria reconhecido. Mais tarde, ele falou sobre “nascer de Deus” (Alma 36:23, 24, 26) através desta experiência; ele ressuscitou para uma nova vida, por assim dizer.  O anjo deixou uma impressão permanente no jovem. O trovão foi inesquecível, impressionou sua alma, e transformou sua vida.

Fonte: Book of Mormon Central

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