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Herege na vida real: quando a fé é colocada à prova

O filme Herege, lançado em 2024, chamou atenção por retratar duas missionárias de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em um suspense psicológico sombrio. Mas para uma jovem sobrevivente, esse terror não é ficção. É memória, cicatriz e testemunho.

Em 2020, com apenas 19 anos e dez semanas de missão, eu servia como missionária no Texas quando, de madrugada, um invasor entrou em nosso apartamento e me atacou junto com minha companheira. Lutamos pela vida por mais de dez minutos até conseguirmos chamar ajuda. Fui esfaqueada nove vezes.

Hoje, mais de quatro anos depois, descrevo aquela noite não como um trauma, mas como um milagre. Cada grito, cada ferimento, cada oração foi parte de um milagre que me aproximou de Deus. Mas também tornou impossível assistir passivamente a filmes como Herege, que usam a imagem de missionárias como entretenimento violento.

A realidade por trás da ficção

Desde o início, descrevi meu ataque como um verdadeiro filme de terror. Sangue no chão, paredes manchadas, a luta desesperada para sobreviver. Quando soube que Herege retrataria missionárias da minha fé, tive esperança de uma representação mais respeitosa. Mas o que vi foi uma distorção perigosa.

Apesar dos diretores dizerem que estudaram nossa fé, doutrina e estilo de vida missionário, o resultado foi como um cavalo de Troia: por fora, entrevistas simpáticas e figurinos corretos; por dentro, um enredo que pode gerar medo, desconfiança e até violência contra missionários reais.

Eu sou prova viva de que agressores como o personagem Mr. Reed podem existir. E se a mídia continuar romantizando ou lucrando com a perseguição religiosa, o risco só aumenta.

Quando o entretenimento ultrapassa limites

Após meu ataque, muita gente sugeriu que minha história virasse filme. Mas para mim, transformar esse tipo de sofrimento em entretenimento é algo impensável. A violência vivida por missionários não deveria ser fonte de lucro ou espetáculo.

Ver um filme que usa elementos reais da missão – como roupas, nomes, linguajar e panfletos – para criar uma narrativa de horror não é só falta de sensibilidade. É um ataque à própria mensagem do evangelho.

Me pergunto: os criadores pensaram nas mães que mandam seus filhos para a missão com fé e oração diária? Pensaram no que sentiriam ao ver cartazes promocionais com missionárias “desaparecidas” em aeroportos por onde seus filhos partem para servir?

O que mais me incomoda é que, mesmo com tantos erros e distorções, poucos parecem se importar. Li centenas de resenhas elogiando o filme, mas nenhuma que expressasse preocupação com sua mensagem. Foi isso que me motivou a escrever.

Sei que nem todos os membros da Igreja ou missionários verão Herege da mesma forma. Alguns até acham que o filme pode gerar empatia. Mas, para mim, os prejuízos são maiores que qualquer possível benefício.

A representação superficial pode parecer bem feita para quem não conhece a fé. Mas detalhes doutrinários distorcidos, falas fora de contexto e interpretações erradas criam uma visão falsa do que a Igreja realmente ensina e vive. E tudo isso é feito sob a justificativa de “licença artística”.

Muito além de uma crítica doutrinária

Um dos pontos mais delicados do filme, na minha visão, é a maneira como aborda o tema do controle religioso, especialmente sobre as mulheres. O vilão Mr. Reed sugere que a religião serve apenas para controlar e manipular, principalmente de forma misógina.

Como mulher ativa e fiel na Igreja, rejeito completamente essa narrativa. Na minha vivência, senti-me apoiada, valorizada e inspirada por líderes homens e mulheres. Sei que eles não são perfeitos, mas acredito que são chamados por Deus, e isso não se aprende em roteiros de Hollywood — se aprende pelo Espírito.

A cena mais ofensiva do filme, para mim, é quando uma mulher levanta a saia de uma missionária, revelando suas roupas sagradas do templo. Para quem não conhece, é como expor um hijab ou um kipá em um ato de desrespeito. É uma invasão de um símbolo íntimo de fé, feita sem qualquer empatia ou reverência.

Outra problemática do filme é o título Herege que sugere questionamento. E eu não tenho problema com isso. Afinal, o próprio evangelho incentiva perguntas sinceras. Mas há uma diferença enorme entre buscar entendimento e atacar o que é sagrado sob o pretexto de diálogo.

Para mim, o filme não está interessado em retratar pessoas ou crenças. Está interessado apenas na heresia: na dúvida, na descrença e no choque. E o mais assustador é que os criadores parecem ter se divertido ao gerar essa reação.

A verdade que o filme ignorou

Apesar da dor, não perdi a fé. Pelo contrário. Cada provação que enfrentei — física, espiritual, emocional — serviu para fortalecer minha crença. O que o filme tratou como caminho de dúvidas, para mim foi o caminho da certeza.

O que Herege não mostrou — e que deveria — é a verdade sobre os missionários: jovens que deixam tudo para servir com amor, esperança e paz. A verdade de que há perigos, sim, mas também preparação, inspiração e proteção divina.

Acredito que sobrevivi graças à inspiração do Espírito, à obediência à missão e a bênçãos específicas que recebi de meus líderes. Sei que, ao contrário do que mostra o filme, uma missionária jamais negaria a oração em seus últimos momentos. Porque Deus não a abandonaria. Ele não me abandonou.

A verdade que a mídia muitas vezes ignora é que há milagres acontecendo todos os dias. Que a fé pode resistir à dor. Que, mesmo diante do horror, o amor de Deus é real e presente.

O maior erro do filme não foi teológico, técnico ou artístico. Foi desperdiçar a chance de mostrar a verdadeira força de uma fé que transforma, cura e salva. Eu sou a prova viva de que mesmo o pior pesadelo pode se tornar testemunho e que, com Cristo, até o horror pode virar esperança.

Essa é a verdadeira história de fé. Essa é a verdade que o mundo precisa ouvir.

Este artigo é uma adaptação de um texto escrito por Lauren Willardson e publicado na Public Square Magazine.

Veja também: Ainda há volta, mesmo quando achamos que fomos longe demais

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