Quando sinto que minhas dúvidas estão corroendo minha fé

25 de abril de 2025 Redação

“Isso não é importante para sua salvação.”
“Um dia todas as respostas para essas perguntas serão reveladas.”
“Para que se preocupar com isso? Estude apenas fé, arrependimento, etc.”

Embora essas respostas muitas vezes venham com boas intenções, é certo que elas quase nunca ajudam de fato membros ou pesquisadores em seu processo de fortalecer o testemunho.

Com o acesso à Internet, qualquer pessoa pode encontrar quase qualquer informação num simples clique. Ao conhecer mais sobre a história da Igreja e o mundo, é comum nos depararmos com dados que, à primeira vista, parecem contrariar verdades do Evangelho. Isso gera perguntas que, quando bem respondidas, fortalecem a fé — mas quando são ignoradas ou mal respondidas, podem gerar dúvidas e até afastamento.

O que nos ensina o Elder Ballard

Reconhecendo essa realidade, o Elder Ballard falou sobre o tema em pelo menos duas ocasiões. Ele ensinou:

“Já se foram os dias em que um aluno fazia uma pergunta sincera e o professor respondia: “Não se preocupe”. Já se foram os dias em que um aluno demostrava uma preocupação sincera e um professor prestava seu testemunho como resposta, na tentativa de evitar o problema. Já se foram os dias em que os alunos eram protegidos das pessoas que atacavam a Igreja…

Naquela época, nosso currículo, apesar de bem-intencionado, não preparava os alunos para esta época; uma época em que os alunos têm acesso instantâneo a praticamente tudo sobre a Igreja, e a partir de qualquer ponto de vista possível.”

E reforçou esse mesmo princípio em janeiro de 2017, em seu perfil no Facebook:

“Não há absolutamente nada de errado em fazer perguntas ou investigar nossa história, doutrina e práticas. A Restauração começou quando Joseph Smith procurou respostas para suas dúvidas sinceras.

Quando tenho uma dúvida que não consigo responder, procuro aqueles que podem me ajudar, tais como estudiosos e historiadores. Ao ser abençoado pelas informações que eles me fornecem, estou mais preparado para buscar a orientação do Espírito Santo.

Para os que têm dúvidas, eu os convido a procurar seus pais, seus líderes das auxiliares, seus professores da Igreja, incluindo os professores do Seminário e do Instituto, seus bispos e seus presidentes de estaca.

E para aqueles que oferecem respostas eu digo, por favor, não desconsiderem a pergunta. Não diga a ele ou a ela para não se preocupar com a questão. Peço que não duvidem da dedicação da pessoa ao Senhor ou à obra Dele. Em vez disso, ajudem a pessoa a encontrar as respostas para suas dúvidas. Precisamos agir melhor ao responder a perguntas honestas.

Embora talvez não sejamos capazes de responder a todas as perguntas sobre o universo ou sobre nossa história, nossas práticas ou nossa doutrina, podemos fornecer muitas respostas aos que são sinceros. Quando não sabemos a resposta, podemos procurá-la juntos — uma busca compartilhada que pode nos aproximar um do outro e de Deus.

É claro que nem sempre conseguiremos encontrar respostas satisfatórias para nossas dúvidas. Nessas ocasiões, é bom lembrar que existe ainda um lugar para a fé na religião. Às vezes, podemos aprender, estudar e saber, mas outras vezes temos que acreditar, confiar e ter esperança.”

Esses ensinamentos são um chamado claro para uma mudança na forma como lidamos com as dúvidas dentro da Igreja, especialmente em uma geração conectada e questionadora.

Jamais ignore ou menospreze as dúvidas

Poucas coisas afastam mais do que ouvir que sua dúvida “não é importante para a salvação”. O problema é que essa afirmação, na maioria dos casos, simplesmente não é verdadeira. Cada pessoa tem uma forma única de ver o mundo, moldada por experiências e vivências.

Talvez para você seja fácil lidar com temas históricos ou doutrinários mais delicados. Talvez estudar apenas os princípios básicos do Evangelho seja suficiente. Mas isso não significa que seja assim para todos.

Quando alguém levanta uma dúvida, nossa resposta deve ser empática e respeitosa. Validar a pergunta e demonstrar amor cristão pode ser mais poderoso do que qualquer explicação intelectual.

A arte de não saber

Por outro lado, um sentimento comum que muitos instrutores na Igreja podem enfrentar é a falsa noção de que toda pergunta precisa ser respondida no momento em que é feita. O questionador talvez esteja refletindo sobre o assunto há muito tempo, enquanto você, instrutor, talvez jamais tenha pensado sobre ele.

Em muitas ocasiões, fui mais fortalecido pelo “eu não sei” de um instrutor do que por uma tentativa apressada de responder algo que ele nunca havia considerado antes. Instrutores e professores do evangelho não têm a obrigação de saber todas as respostas. Sua responsabilidade, no entanto, é conduzir o debate e buscar essas respostas.

Ao se deparar com questões complexas, evite o impulso de oferecer respostas superficiais caso não saiba a resposta. Dizer “eu não sei” é um ato nobre. Não saber é o que move o mundo e nos impulsiona a buscar conhecimento.

Estar preparados

É natural nos depararmos com perguntas que nunca havíamos considerado. Porém, existem temas que são recorrentes, como a poligamia, o sacerdócio e os negros, o Livro de Abraão, entre outros. Ninguém espera que os professores da Igreja conheçam tudo sobre ciência ou história, mas é importante estar preparado para esses tópicos comuns.

Um excelente ponto de partida é a seção Tópicos do Evangelho, no site oficial da Igreja. A partir dali, é possível expandir o conhecimento com fontes confiáveis e bem documentadas — inclusive de fora da Igreja, com sabedoria e bom senso.

Para quem tem dúvidas

Assim como há um jeito certo de responder perguntas, também há um jeito sábio de perguntar e buscar respostas. Aqui vão algumas dicas importantes:

Você não está sozinho
Muitos já passaram pelas mesmas dúvidas. Você faz parte de uma comunidade.
Paciência é essencial
Nem sempre o professor ou líder terá a resposta de imediato. Dê tempo e espaço para a busca.
Mantenha os estudos básicos
Não abandone princípios como fé, arrependimento e serviço por uma busca interminável por respostas complexas. Uma fé equilibrada é construída com estudo espiritual e secular.
Coloque algumas dúvidas na “prateleira”
Nem tudo terá uma resposta clara agora. Isso faz parte da jornada.
Volte aos métodos antigos
Ore. Pergunte a Deus. Reflita. Busque com sinceridade, e Ele responderá no tempo certo.

Conclusão

Seja você um instrutor, um membro, ou alguém com perguntas sinceras, é essencial mudarmos a forma como lidamos com dúvidas. Ao seguirmos os conselhos do Elder Ballard, criamos uma geração mais forte, mais preparada e mais conectada com o Espírito.

Afinal, como ele mesmo disse, o Evangelho existe porque um jovem teve perguntas — e um Deus disposto a respondê-las.

Ver também: 5 passos para se tornar um homem como Cristo